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quinta-feira, 24 de novembro de 2016

Toda mulher gorda deveria ver GORDA.

É inegável que 2016 é um ano para comemorar. Tivemos a oportunidade de ver mulheres gordas brilhando, desenvolvendo suas características sem medo da opressão e calando a boca de quem espalha preconceito por ai. Mas até agora um sentimento de que algo deveria ajudar as próprias meninas gordas me fazia questionar até que ponto poderíamos soltar nossos fogos de que esse foi um grande ano para nós.
Todos os dias vejo minas que ainda não tem segurança com o próprio corpo. Não se amam, se sentem mal, são maltratadas em casa, no trabalho, nas festas. As vezes fico pensando como pode em pleno 2016 ainda termos que lidar com comentários maldosos ou falta de liberdade com os nossos corpos, e faltam projetos que façam com que não só a sociedade padronizada, mas também as meninas que sofrem esse preconceito, entendam como é importante a aceitação do corpo gordo.

E foi ai que cheguei no trabalho um dia essa semana e dei de cara com o curta GORDA, da youtuber Luiza Junqueira. Já tinha visto um pouco de divulgação nas redes sociais da Luiza, e parei na hora para ver do que se tratava.
De cara já senti um misto de alegria e orgulho daqueles que vem lá do fundo. O filme mostra o corpo gordo de uma forma delicada e da qual nem nós gordas estamos acostumadas a ver... É normal ver corpos magros retratados com delicadeza e sensualidade em todos os tipos de mídias, mas ver corpos gordos sendo retratados assim é uma surpresa até para quem vê suas curvas todos os dias no espelho.


O filme mostra o depoimento de três mulheres diferentes, com rotinas diferentes e mentalidades diferentes mas com o corpos gordos. É incrível como as três, apesar de estarem em fases diferentes da vida e de sua aceitação, relatam as mesmas coisas que todas as meninas gordas que conheço falam sobre: o preconceito, a dificuldade em se aceitar, a criação baseada na padronização da beleza.
Eu vejo uma loucura em torno de dietas e exercícios pelos motivos errados e infelizmente eu não vejo isso vindo só de pessoas magras.

Mas afinal, porque toda mina gorda deveria ver esse filme? Porque a gente merece ver o nosso corpo da mesma forma que o filme mostra! Em 15min de filme eu chorei, sorri, me identifiquei ou não com o que as mulheres que o protagonizam contam, mas mais do que tudo isso, entendi muitas questões sobre as quais me questionei durante anos. É bom saber que os "errados" são os outros, porque nós crescemos ouvindo que não podemos x coisas ou devemos aceitar o preconceito por não estarmos (certas) dentro do padrão. Mas é quando descobrimos o que passam pessoas iguais a nós, que tiramos o peso de não ser o que os outros querem das nossas costas, afinal, ele não é nosso.
Além disso, as três tem muito a ensinar para quem ainda não conseguiu desconstruir a própria imagem negativa. Como já falei aqui no blog, é uma luta diária... Mas que fica mais fácil quando temos a ajuda de um filme tão bem feito e importante dentro de uma sociedade gordofóbica.
Um filme sobre gordas, feito por gordas para gordas. Não tinha como ser diferente.

"Gorda sim, maravilhosa também"

sexta-feira, 11 de novembro de 2016

Eu demoro


Eu demoro
Eu costumo seguir o meu caminho a passos curtos e olhadas lentas para as coisas que me rodeiam.
As esquinas e os prédios antigos, os postes que trazem dizeres ilustrando a vida e esse tal amor sobre o qual falo nas entrelinhas. Os pássaros que cantam e motoristas parando em faróis que não brilham nada perto dos últimos dias de sol.

Eu demoro
Demoro pra chegar em qualquer lugar que me limite o campo de visão porque eu gosto de ver além. Paredes, tetos e janelas só me atraem até o momento em que procuro algo maior, mais liberto e que permanece em mutação.

Eu demoro
Vou caminhando devagar pra não perder cada coisa que o meu globo ocular enxerga, cada barulho que me desperta a audição de algo muito maior que eu.
As mesmas luzes que me cegam me iluminam, e cada encontro inesperado no caminho me faz ver que o meu corpo não é nada perto desse vier.

Eu demoro
Pra plantar, adubar e regar as flores que deixo a cada passo que dou.
Essas flores que são tão maiores que eu, elas que habitam o meu jardim particular.

Eu não tenho pressa.

quarta-feira, 26 de outubro de 2016

Sinto, e sinto muito.

Ilustração: Henn Kim / Pinterest

Eu sinto que a cada dia eu acordo diferente. Não só o meu corpo que obviamente envelhece a cada manhã em que acordo somando 24h aos meus atuais 23 anos mas também a forma como enxergo cada uma das questões desse nosso existir. Mas afinal, o que é existir de verdade?

Eu já cobrei demais dos outros, já tive fases em que eu achava que se a pessoa não se mostrasse presente ela na verdade não estava ligando pra mim. Cobrei, falei, chorei, fiz com que amigos se sentissem culpados (ou não) por não terem as mesmas atitudes que as minhas, por não acordarem todas as manhãs e me perguntarem se eu estava bem, por estarem com outras pessoas e não comigo. Eu nunca fui muito de falar mas se tinha um momento em que eu abria o berreiro era esse. Eu tenho mesmo uma certa dificuldade em aceitar que os outros não tenham as mesmas atitudes que eu.

Mas ai a vida vem e te muda. Talvez (e provavelmente) pra te mostrar que você estava errado, mas relaxa, ela faz isso com todo mundo. Sinto que acordo a cada dia com menos obrigação de provar aos outros o que sinto. De que vale amar alguém (e por amor se entende viver esse sentimento por completo) se tenho que ficar o tempo todo ditando o que sinto para a pessoa. Eu tenho cada vez mais entendido que o amor é um sentimento pessoal e intransferível, daqueles que por mais que você se desdobre para materializar a maior das provas de amor, o outro nunca vai entender por completo o que você sente. A verdade é que amamos para nós mesmos.

Amar e se importar com os outros ou outras coisas te torna pleno. Te da uma razão para existir e no fundo é isso que nós queremos. A necessidade de se sentir amado não é nada perto da necessidade de amar alguém/algo, é ela que te faz viver a plenitude dos seus dias sem desistir. É ela quem te faz se sentir importante de verdade para os outros. É o seu sentir na mais pura das essências. E é quando faz sentido aquilo que dizem: você é o que você sente.
É ai que você começa a existir para você e parar de se sentir mal por achar que não existe para os outros e para o mundo.

Então tente começar a cobrar menos entendimento do amor que os outros sentem por você e passe a sentir a felicidade que é olhar alguém ou algo que você ama crescer, viver, se fazer. O amor é seu, desfrute dele ao máximo.